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05 . 01 . 2022

Investigação apoiada pela Santa Casa. Ratinhos recuperaram espontaneamente a mobilidade após uma lesão

Estudo liderado por Mónica Sousa, cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S).

Mónica de Sousa

Num estudo liderado por Mónica Sousa, cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), concluiu-se que o ratinho-espinhoso-africano consegue recuperar a mobilidade de forma espontânea, após uma lesão na espinal medula. Em 2019, o seu grupo foi distinguido com o Prémio Melo e Castro.

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Não se conhecia nenhum mamífero adulto que conseguisse regenerar o sistema nervoso central e recuperasse após lesão. Num estudo liderado por Mónica de Sousa, uma cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, observou-se, pela primeira vez, que o ratinho-espinhoso-africano é capaz de recuperar a mobilidade de forma espontânea após uma lesão na espinal medula. A descoberta, publicada esta semana na revista científica Developmental Cell, abre portas para estudos futuros. A investigadora fez questão de notar que este trabalho só foi possível com apoio financeiro inicial dado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Prémios Neurociências

Desde 2013 que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa atribui os Prémios Neurociências. O Prémio Melo e Castro, mais concretamente, distingue trabalhos que permitem a descoberta de soluções para a recuperação e o tratamento de lesões vertebro-medulares.

Em 2019, o grupo de investigação coordenado por Mónica de Sousa, da Universidade do Porto, foi galardoado com o Prémio Melo e Castro, recebendo 200 mil euros. Nessa altura, a equipa do Instituto de Biologia Molecular e Celular propunha-se estudar os mecanismos moleculares e celulares que levam a que uma espécie de rato africano, o Acomys cahirinus, tenha uma “enorme capacidade regenerativa”, a ponto de voltar a andar após uma lesão completa na medula espinal.

Mónica de Sousa

O trabalho desenvolvido

Num comunicado sobre o trabalho desenvolvido, explica-se que a regeneração do sistema nervoso central de mamíferos adultos é impossível devido à incapacidade dos neurónios afetados reconstituírem os axónios (também eles afetados, quando acontece uma lesão). A partir daí, há uma paralisia dos membros. Os axónios são extensões dos neurónios responsáveis pela transmissão de informação a longa distância e possibilitam a perceção da informação que recebemos de diferentes partes do corpo. É também pelos axónios que o cérebro lança informação a longa distância e possibilitam a perceção da informação que recebemos de diferentes partes do corpo. É também pelos axónios que o cérebro lança informação para que o corpo execute uma ação. Quando uma comunicação é cortada, as ordens não são recebidas.

“As lesões da espinal medula afetam os axónios que fazem circular informação do corpo para o sistema nervoso central, e vice-versa”, diz Mónica de Sousa. Se já se sabia que havia seres com capacidade de regeneração de membros inteiros (como alguns anfíbios), pensava-se que os mamíferos adultos perdiam a capacidade regenerativa do sistema nervoso central.

Mónica Sousa esclarece que, ao conseguir perceber-se como um mamífero é capaz de regenerar o sistema nervoso, pode fazer-se com que doentes com uma lesão na medula repitam alguns dos mecanismos e tenham uma capacidade regenerativa. Mesmo assim, frisa: “Até se chegar à fase clínica, é necessário conseguir financiamento e interesse da indústria farmacêutica para se fazer um percurso de vários anos de provas pré-clínicas [sem humanos].”